Estudos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) mostram que o extrato do caroço do açaí pode ser útil no tratamento contra transtornos de ansiedade. As investigações começaram em 2014 e são desenvolvidas pelo grupo de pesquisa Farmacologia Cardiovascular e Plantas Medicinais do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag).

A maioria dos estudos com a fruta são concentrados em analisar a polpa, mas a pesquisa da Uerj é pioneira ao propor a utilização de um extrato feito a partir do caroço do açaí, parte que geralmente é descartada. “Nosso estudo tem o objetivo de entender mais especificamente sobre o efeito ansiolítico do caroço e como atua no sistema nervoso”, explica a pesquisadora Graziele Freitas de Bem, professora do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (Ibrag) da Uerj.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou em 2019 que mais de 300 milhões de pessoas no mundo sofrem com transtornos de ansiedade e o Brasil é o país com maior prevalência da patologia, segundo os dados mais recentes. Somado a tais circunstâncias, há um crescimento exponencial no uso de psicofármacos para tratamento da ansiedade. Uma pesquisa da Fiocruz divulgada em janeiro de 2024 mostrou um aumento de 75,37% no uso desses medicamentos ao comparar períodos antes e após a pandemia de Covid-19. O estudo com o extrato do caroço do açaí é uma esperança por ser um fármaco que tem se mostrado eficaz e ao mesmo tempo possuir efeitos colaterais leves.

Os experimentos com o extrato, que recebeu o nome de ASE, abreviatura da expressão açaí seed extract, foram feitos com roedores que, após serem submetidos a situações de estresse, foram avaliados em termos comportamentais e bioquímicos. Os testes de comportamento apontaram que animais tratados com o ASE apresentaram atitudes menos ansiosas diante de situações adversas. As avaliações bioquímicas, por sua vez, indicaram a produção de hormônios e receptores que ajudam o organismo a regular respostas a eventos estressantes. Todos esses resultados foram publicados na revista canadense “Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism” em novembro de 2020.

O ASE está em vias de ser registrado e patenteado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e, o próximo passo da pesquisa, é iniciar os testes em seres humanos. Este e outros estudos desenvolvidos pelo grupo contaram com o apoio de agências de fomento como o Conselho Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (CNPq) e a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

 

Fonte para entrevistas:

Profa. Dra. Graziele Freitas de Bem – Docente do Departamento de Farmacologia e Psicobiologia e do Programa de Pós-graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental (FISCLINEX) da Uerj.