Estudo do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) avaliou a tendência de consumo de açúcar no Brasil e suas principais fontes e revelou queda na ingestão de açúcar pelos brasileiros. No entanto, os números ainda estão acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A análise do Observatório de Obesidade da Uerj utilizou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos anos 2002-2003, 2008-2009 e 2017-2018. Foram considerados como fontes alimentares os seguintes itens: açúcar refinado, outros adoçantes calóricos e alimentos processados e ultraprocessados com adição de açúcar, como refrigerantes, outras bebidas, doces, balas e chocolates, biscoitos, bolos, tortas e outros alimentos.
A pesquisa da Uerj identificou estabilidade no consumo do produto entre 2002 e 2008, com declínio a partir de 2017. Entretanto, nos três períodos observados, a participação média de açúcares de adição na dieta brasileira, aquele que não é natural do alimento, foi superior a 10% em todos os estratos sociais analisados, o que ultrapassa a recomendação da OMS. O ideal seria se manter abaixo dos 5%.
“Apesar de a principal fonte de açúcar na dieta dos brasileiros ser o açúcar refinado, a queda entre 2008 e 2017 se deve, principalmente, à redução no consumo de refrigerantes, o que é super importante, dado que este é um alimento ultraprocessado”, explica Daniela Canella, professora da Uerj e coordenadora da pesquisa. “Em alguma medida, as ações que contribuíram para essa diminuição tiveram maior impacto entre os mais ricos. É preciso atenção, porque a população mais pobre já é mais vulnerável em relação a vários desfechos em saúde”, alerta.
Monitoramento e controle
Para a professora, os achados do estudo apontam que a redução no consumo de refrigerantes deve ser o foco da saúde pública para minimizar os efeitos da ingestão excessiva de açúcares adicionados. Esse objetivo está alinhado ao Plano de Ação Estratégica para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil 2021-2030, que visa reduzir em 30% o consumo de bebidas açucaradas; e ao Guia Alimentar para a População Brasileira, que recomenda que alimentos ultraprocessados, incluindo bebidas açucaradas, devem ser evitados.
“Acompanhar as tendências de consumo da população é uma medida essencial para conhecer o cenário do país e aconselhar sobre as políticas de intervenção mais adequadas para promover uma alimentação saudável”, afirma Canella.
O estudo teve apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e foi publicado neste mês de abril no periódico científico British Journal of Nutrition.
Fonte:
Professora Daniela Canella – Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)